2 de março de 2015

Bullying - Demonstração de poder ou de inferioridade? Luiza Gosuen




Atualmente, temos ouvido falar em diferentes ocasiões o termo Bullying.
"Bullying, que é uma palavra vinda do inglês, utilizada para descrever atos de violência física e/ou psicológica, intencionais e repetidas, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos" .

"Ah! é isso?...então eu sei o que é..." - disse-me um avô no consultório, quando foi saber melhor sobre o diagnóstico do neto- e ele continuou ... "Só que no meu tempo a gente levava na brincadeira, eu mesmo já sofri disso então, pois quando eu era pequeno na escola me chamavam de "dumbo", porque eu tinha as orelhas grandes (de abano), mas a gente resolvia isso logo, já dava uns cacetes no "muleque" e ele não se metia mais a besta."

Que interessante! - exclamei,  e ele continuou: -"E funcionava, viu doutora! Agora a "mulecada" ao invés de se preocupar em aprender, fica procurando um jeito de poder ficar "magoado" e não ir para a escola, e os professores e pais dão muita atenção a uma coisa que se fosse conversado direito em casa tava resolvido, porque se você não é o que eles tão falando...oras bolas, deixa pra lá, não é dona?."

Eu fiquei pensando sobre essa fala dele e me lembrei que na minha época de escola existiam muitos apelidos também, como por exemplo: "quatro olho"(para os meninos de óculos), "pelé" (para todo menino negro), "mariquinhas"(para os meninos que não gostavam de brigar), "juba de leão"(para as meninas com muito cabelo), "dumbo"(para quem tinha orelhas grandes), "baleia"(para os gordos), "tripa seca"(para os magros), "cdf" (para os estudiosos), "burro"(para os que não tinham notas altas), "pão duro"(para os que não repartiam o lanche), "quadrado"(para os tímidos), "galinha" (para meninas que gostavam de namorar), e sobrava até para os professores carecas (pouca telha) e para as professoras magrelas (vara-pau) sem contar que toda diretora era "a general".

E não me lembro de caso onde esses episódios não fossem resolvidos lá na diretoria ou na saída da escola, porque em horário de aula, os professores tinham muita matéria para nos ensinar : aula de música, educação física (exercícios físicos mesmo, e não apenas jogar bola),ensaios de danças folclóricas (dança da fita, balaios, cantigas),ensaios da fanfarra, competições e gincanas entre as classes, declamar poesias e ler redações, participar de atividades de educação moral e cívica cantando o hino e hasteamento da bandeira), exposição de trabalhos  de educação artística , inventos de química e biologia...Nossa! a gente estudava pra caramba...e no final de semana ainda tinha os bailinhos que fazíamos na casa da turma, cada dia numa casa, só pra tomar "Crush" e ouvir nossas músicas nas eletrolas e, naturalmente, dançar um pouquinho, juntinho  - é claro. Reunia-se uma turminha e cada vez era um dos pais que ia levar e buscar na hora combinada. 

Bem, mas e agora? O que está diferente? O destroçamento do núcleo familiar, onde as pessoas, no aconchego do lar não conversam mais entre si. Cada um  "some" nas dependências da casa. Um munido de seu notebook, a outra fecha a porta e não se separa do celular , outro luta ferozmente com a guerra de seu vídeo game e tem quem se perfila diante da tela insana da televisão assistindo a programas de baixo nível - e tudo isto vai desaguar nas escolas ou na vida das crianças e adolescentes. Isso sem contar as noitadas - na maioria das vezes, livres de qualquer autoridade de seus responsáveis-  nas baladas, pancadões, funks e outras orgias que estimulam a promiscuidade, perversidade e noção infundada de que o jovem é poderoso.Quanto mais bebida, droga e sexo mais se acha com "poder" para oprimir quem não está nessa roda.

Outro fator que também propicia o "Bullynig", sem dúvida, são as famílias disfuncionais, onde as crianças não são reconhecidas nas suas potencialidades inatas, não raro são anônimas dentro das suas próprias casas, não recebem elogios, não são fortalecidas em suas capacidades e talentos e  por isso se tornam alvos frágeis para outras crianças ou adultos que igualmente foram desestimulados em suas famílias ou empregos e, agora, descontam no primeiro que se encontrar emocionalmente vulnerável.

Essa vulnerabilidade, aliás, é oriunda da baixa autoestima de muitas dessas pessoas que, por não terem luz própria, estão propensas a ser vítimas passivas ou algozes de situações depreciativas, haja vista que, nesse contexto, embora de extrema negatividade, é que essas pessoas acabam sendo "notadas" ou se fazem "notar". Há que se aprofundar mais no estudo da origem dessas situações.

Nas escolas, com as exceções de praxe, alguns professores desmotivados e desrespeitados pelo próprio governo que lhes paga salários irrisórios ministram aulas insossas, que não cativam em nada os alunos para a aventura eletrizante que é a aprendizagem . Pronto: temos aqui uma ambiência propícia à anulação do ser humano como pessoa - seja professor ou aluno - e, nesse vazio de valores individuais e de ética nas relações humanas, a desarmonia nos contatos, que no passado se resolvia de uma forma mais "light", assume foros de proporções de tal virulência que envolve a polícia, advogados, promotores e juízes; o Estado, enfim, é convocado para, através de legislação pertinente, coibir esses abusos sintetizados no termo "Bullying".

As leis, por si mesmas, podem alcançar e punir os infratores, porém não raro com penalidades brandas , para não dizer impunidade onde os pais ainda defender seus filhos quando cometem essas barbaridades (e isto estimula mais o "Bullying"). Há que se buscar a resolução desses problemas através de mudanças educacionais (escolas e professores bem preparados), na alteração da legislação que de fato alcance e puna com rigor os malfeitores em geral, bem como responsabilizar os pais que, na maioria das vezes, fazem vista grossa para o problema e em alguns casos até estimulam os filhos com maus exemplos vindos de casa. E não apenas combater a delinquência estudantil, mas se criar um projeto de cidadania sob medida para um país como o Brasil, gigante pela própria natureza, mas que não consegue caminhar por si mesmo nas questões éticas e morais que verdadeiramente formatam uma Nação.  

Penso que precisamos ter bom senso. Ao invés de ficarmos instigando as crianças e jovens que qualquer olhar atravessado é um "preconceito" ou " assédio", que usemos nosso tempo com eles para enaltecer o amor próprio e o amor ao próximo de qualquer nacionalidade, origem social, cor da pele ou credo religioso; de propiciar exemplos de cidadania nos relacionamentos e também com o meio ambiente, com os animais e, principalmente, incentivar bons hábitos em casa, como a troca de ideias uns com os outros, leitura de alto nível e música de qualidade. 

Parece coisas muito simples - e são -, mas que certamente, quando implementadas, farão a diferença no posicionamento e nas atitudes de seus filhos perante qualquer embaraço que enfrentarem - e serão muitos os obstáculos com os quais  terão de lidar ao longo da vida; no entanto, com autoestima bem estruturada, fruto de uma boa educação familiar acima de tudo, eles saberão sagrar-se vitoriosos sobre essas circunstâncias adversas. 

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